EVANGELHO – SEGUNDO MATEUS


AUTOR – Segundo a tradição da Igreja, o autor é Mateus. Seu nome era Levi e sua vocação é narrada pelos três sinópticos (designação que se dá aos três primeiros Evangelhos do N.T. – Mateus Marcos e Lucas).  
Ele era um publicano, filho de Alfeu, que recebeu o chamado de Jesus, deixou tudo e o seguiu. Seu Evangelho surgiu aos poucos, de sua elaboração participaram muitas pessoas, sobretudo a comunidade do próprio Mateus. Assim, é correto falar Evangelho “segundo” Mateus, e não de Mateus.
De qualquer modo quem o escreveu mostra ser judeu culto e bem familiarizado com a Escola Rabínica (Mt. 13,52) “Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus é comparado a um pai que tira de seu tesouro coisas novas e velhas”.

LÍNGUA – Hebraico, isto é, aramaico, que era a língua dos judeus da época. Traduzido livremente para o grego.

DATA – por volta de 85/90 d.C.

LOCAL – Há divergências sobre isso, seria Antioquia da Síria, ou a Fenícia, ou Galileia.

DESTINATÁRIOS – Comunidades cristãs vindas do judaísmo e que passavam por uma grande crise. No ano 70 d.C., Jerusalém com seu Templo foram destruídos pelos romanos. Os grupos religiosos judeus, que existiam na época de Jesus, já haviam desaparecido quase todos (saduceus, zelotas, essênios). Sobraram só os fariseus e os escribas que cerca do ano 85 se reuniram numa cidade chamada Jâmnia. Ali fizeram uma espécie de Concílio, no qual expulsaram do judaísmo todas as correntes contrárias aos ensinamentos dos fariseus, incluindo os cristãos.
Essa rejeição por parte de seus irmãos na fé, mergulhou as comunidades cristãs em uma crise profunda. Surgiu então um escrito que garantia que Jesus de Nazaré era o Messias e que este Emanuel (Deus conosco) estaria com os seus até o fim dos séculos. (Mt 1, 1. 23; 28, 20) “Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão gerou Isaac (...) Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel; (...) Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.

FONTES – A base principal dos Evangelhos é a tradição oral da pregação dos Apóstolos. Já se percebe que Mateus, como Lucas, inspirou-se em Marcos, que foi o primeiro evangelho escrito, mas numa redação diferente da atual e anteriormente a ela.
            O segundo e o terceiro evangelhos têm palavras e discursos que estão muito reduzidos em Marcos e, além disso, concordâncias contra Marcos. Daí os estudiosos concluíram que eles tiveram também outra fonte, para nós desconhecida, que colecionou sobretudo sentenças de Jesus. Convencionou-se chamá-la de fonte “Q”, primeira letra da palavra “Quelle”, que quer dizer fonte, em alemão.

TEMA – O tema deste Evangelho é o Novo Israel. Mateus insiste fortemente com suas comunidades sobre o tema do “Reino dos Céus” e procura mostrar na pessoa e na obra de Jesus o cumprimento das Escrituras: A Lei e os Profetas. Jesus é o Messias prometido a Israel.
            Mt 1, 1 “Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.”
            Mt 1, 16 “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.”
            Mt 2, 4 “Convocou os príncipes dos Sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.”
            Mt 16, 16 “Simão Pedro respondeu: tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!”
            Mt 16, 20 “Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.”
            Mt 22, 42 “Que pensais vós de Cristo? De quem é filho? Responderam: “De Davi!”
            O filho do Deus Vivo, que salvará o povo dos seus pecados.

ESQUEMA -             Este Evangelho tem primeiro, os preparativos para a vinda do Reino, cinco livrinhos sobre o Reino e por último, sua vinda definitiva.
            Cada livrinho tem duas partes: uma narração e um discurso.


PREPARATIVOS – O MESSIAS MENINO – UM NOVO COMEÇO – 1-2


1º Livro

Jesus traz o Reino – 3-4  
Programas: Condições para entrar no Reino - Sermão da Montanha – 5-7

2º Livro
Os milagres, os sinais do Reino, confirmam a palavra 8-9
Pregação: Como anunciar o Reino – Discurso da Missão – 10

3º Livro
As reações diante da prática de Jesus – 11-12
Obstáculos: O ministério do Reino – Discurso da Missão
- As Parábolas do Reino – 13, 1-52

4º Livro
O seguimento de Jesus e as tradições dos fariseus – 13, 53 – 17, 27
Discípulos: Como viver a proposta do Reino – A comunidade dos seguidores – 18, 1-35

5º Livro
O Reino é para todos – 19-23
Vinda do Reino: O futuro do Reino – Crise suscitada pelos chefes judeus – 24-25
Advento Definitivo: sofrimentos da Paixão e Morte – 26-27
Triunfo da Ressurreição – Libertação – 28

            O Evangelho Segundo Mateus, começa com a genealogia de Jesus, na qual o evangelista quebra com a estrutura patriarcal da época introduzindo cinco mulheres entre os ascendentes de Jesus, sendo que quatro ainda tem manchas morais: Tamar (Mt 1,3), Rute (Mt 1,5), Betsabé (Mt 1,6), as quais acrescenta Maria, mãe de Jesus (Mt 1,16).
           
            Os cinco discursos são também notáveis –

No primeiro (Mt 5-7) o Sermão da Montanha, Jesus expõe os princípios fundamentais para quem quer ser seu discípulo, para quem deseja entrar no Reino dos Céus, iniciando com as Bem-aventuranças. Propõe um novo tipo de felicidade para o mundo e os homens não só de seu tempo, mas até dos tempos atuais.
Pode até parecer um paradoxo, mas é a base de toda a vida seguindo o Reino.

A melhor tradução para Bem-Aventurança é “Parabéns!”. Para o Biblista Carlos Mesters, o Sermão da Montanha é a expressão do novo que começa a existir na vida dos homens, quando eles se abrem para Deus. É a expressão concreta da conversão que se opera naqueles que aderem a Jesus Cristo.

O Segundo Discurso (Mt 10) é o chamado Discurso Apostólico, dirigido diretamente ao grupo dos discípulos, para orientá-los e preveni-los em sua missão.

O Terceiro (Mt 13, 1-51) é uma narração feita por Jesus, por meio de parábolas.
Parábolas são comparações, tiradas do cotidiano da vida, que procuram facilitar aos que têm o coração aberto para Deus à descoberta e à compreensão melhor do Reino dos Céus. Ao mesmo tempo, elas o encobrem para os que têm o coração fechado e os incitam à descoberta.

O Quarto (18, 1-35) é sobre a comunidade dos seguidores, explica muito claramente como devem viver a proposta do Reino, são ensinamentos preciosos para vida em comunidade.
 São ensinamentos agrupados como se fossem um único discurso de Jesus. Ele é a resposta para aqueles que se interrogam sobre o que devem fazer, quando batizados, para seguir o caminho proposto por Jesus.

O Quinto discurso (24-25) é o chamado Discurso Escatológico, isto é, sobre o fim dos tempos. Anuncia a crise suscitada pela crescente oposição dos chefes judeus e mostra o futuro do Reino. O critério para nele participar é a Misericórdia, que faz justiça aos oprimidos, excluídos e relegados.
Este texto maravilhoso, que é exclusivo de Mateus, determina o julgamento através das obras feitas ao Senhor, sem que as pessoas que estão sendo julgadas saibam que, quando atenderam às necessidades fundamentais e básicas “dos irmãos mais pequeninos” era ao Senhor mesmo que estavam atendendo (25-40).
O juiz, que os julgados acreditam ver pela primeira vez, acabará sendo alguém que eles encontraram durante todo o curso de suas vidas.
Eles só entenderão isto, tarde demais, quando já tiverem sido julgados e colocados uns à direita e outros à esquerda.
O capítulo 25 é também chamado de Evangelho dos Cristãos Anônimos, daqueles que são discípulos de Cristo, praticando sua justiça, sua misericórdia, seu amor, e nem sabem que são discípulos.


O ROSTO DE JESUS NO EVANGELHO DE MATEUS
O Jesus de Mateus é o Jesus Mestre

            É Mestre Servidor. Ele ensina, prega, cura, sempre no meio do povo, servindo o povo (Mt 4, 23-25) e levando os discípulos a também serem servidores (Mt 9, 35-38). Para ele, o serviço está acima da Lei e da Religião (Mt 12, 7-14).
            Jesus é comparado ao servo de Javé, descrito por Isaias, que veio para fazer triunfar o direito à Justiça, isto é, para libertar o povo (Mt 12, 15-21). É aquele que ensina o serviço e a partilha como meio para acudir as necessidades do povo (Mt 14, 13-21).
            No seu Reino, o maior é aquele que serve e Ele mesmo veio para servir, e não para ser servido (Mt 20, 20-28), só entrará no Reino quem serve e, pelo serviço aos outros, e que todos serão julgados pelo Pai (Mt 25, 31-46). Sua realeza é incompreendida e achincalhada porque, para Ele, ser Rei é dar a vida a serviço do povo (Mt 27, 27-31.

            É Mestre que ensina – principalmente à nova justiça, isto é, uma fidelidade nova à Lei de Deus (Mt 5, 17-18). Ele não veio abolir a Lei, mas dar-lhe novo sentido e nova interpretação, a qual é muito superior à dos antigos, a dos Escribas e a dos Fariseus, e, quem não praticar não entrará no Reino dos Céus (Mt 5, 20).
            Assim, Ele é o novo Moisés, que vem levar a Lei de Deus a sua plenitude, atualizando-a.
            É a nova Lei. Realmente, Ele a plenifica, sobretudo em alguns pontos capitais:
Ø  Se aos antigos era dito para não matar, Ele diz que é preciso muito mais: não se encolerizar contra seu irmão, não o chamar de imbecil, nem de idiota, dar sempre o primeiro passo para a reconciliação (Mt 5, 21-16).
Ø  Se os antigos não podiam cometer adultério, Ele tem exigência maior: Nem olhar para uma mulher com desejo de possuí-la (Mt 5, 27-30.
Ø  Se os antigos não podiam jurar falso e precisavam cumprir seus juramentos para com o Senhor, Ele não quer que se jure de modo nenhum, mas apenas diga: “sim”, quando é “sim”, e “não” quando é “não” (Mt 5, 33-37).
Ø  Se os antigos tinham como Lei: Olho por olho e dente por dente, seus discípulos não devem se vingar de quem lhe faz o mal, mas sempre e em tudo serem condescendentes (Mt 5, 38-42).
Ø  Se aos antigos era dito que amassem o seu próximo e odiassem o seu inimigo, com seus discípulos é muito diferente: é preciso amar os seus inimigos, orar pelos que os perseguem (Mt 5, 43-48).
Ø  A nova Lei exige dos discípulos de Jesus, que sua justiça, sua prática, seja vista só por Deus e não para receber elogios e recompensas dos homens (Mt 6, 1; 16, 16-18).

Assim o discípulo de Jesus, para Mateus, precisa, como seu Mestre, antes de tudo, buscar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais lhe será dado por acréscimo (Mt 6, 33).
Por último, para Mateus Jesus é aquele que ficará presente com seus discípulos “todos os dias”, até a consumação dos séculos (Mt 28,20).
Chama atenção que Mateus seja o único evangelista a registrar esta palavra do Mestre e que Ele prometeu estar conosco, não pela vida afora, mas todos os dias, a cada instante de nossa vida. Jesus é, para Mateus, realmente, o Deus conosco, o Emanuel, prometido a José no início do seu Evangelho
            Assim, do início ao fim deste Evangelho, Jesus é aquele que caminha conosco e nos ensina como caminhar no serviço, na justiça e no amor.

Fonte: André Luiz Milani; João Décio Passos; Pedro Lima Vasconcellos; Sylvia Villac

Por Padre Marcos Oliveira 
Nhandeara  
15/01/2020

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