Reflexão e
aprofundamento
Tema: Catequese: missão e
compromisso
Fundamentação bíblica: Lc 24, 13-35
O mês vocacional nos
chama à reflexão para a importância da vocação, na descoberta do nosso papel e
do nosso compromisso com a Igreja, a sociedade e, acima de tudo com a vida. A
catequese enquanto processo de educação na fé, não se limita ao ensinamento de
conteúdos teóricos, desconectados da realidade.
O próprio Diretório
Geral para a Catequese afirma que: “é mais que um ensino: é um aprendizado de
toda vida cristã, uma iniciação cristã integral, que favorece um autêntico
seguimento de Cristo, centrado na sua pessoa” (cf. nº 67).
O encantamento inicial,
o primeiro anúncio (querigma) é, pois, uma
experiência verdadeira de Jesus Cristo, um caminho que deve ser percorrido por
todos aqueles que pelo batismo assumem sua vocação de discípulos missionários.
Ao percorrer o caminho
catequético o processo de encantamento e reconhecimento do Senhor Ressuscitado
é um caminho de formação gradual, com suas características peculiares, gestos,
ritos e sinais, como nos mostra o Documento de Aparecida: “o caminho de
formação do cristão, na tradição mais antiga da Igreja, teve sempre caráter de experiência,
na qual era determinante o encontro vivo e persuasivo com uma experiência que
introduz o cristão numa profunda e feliz celebração dos sacramentos, com toda a
riqueza de seus sinais. Desse modo, a vida vem se transformando
progressivamente...” (cf. DAp. nº 290).
Sabemos que antes da
catequese existe um momento importante que é o do anúncio de Jesus Cristo,
conforme já sinalizamos acima.
Este anúncio pode ser
relacionado à experiência do encontro, do reconhecimento na fração do pão – na koinonia (Lc 24, 30-32). Por este
processo se compreende a ressurreição.
Para enriquecer a nossa
reflexão, vamos aprofundar o tema da catequese como caminho que conduz à
ressurreição. Para tanto, retomamos o texto bíblico de Lucas, 24, 13-35. Será
necessário estarmos dispostos a percorrer este caminho, como fez o próprio
Jesus Cristo ao longo da estrada de Emaús. A sugestão é a leitura do texto
indicado acima. Dar um tempo para a leitura e meditação do texto lido.
A metodologia
catequética de Lucas nesta perícope de Emaús tem cinco etapas, a saber:
1ª Etapa da Aproximação:
- “O próprio Jesus se aproximou” (cf.
24, 13-24) – Aproximação da
realidade dos discípulos. Exercício de paciência, pedagogia do amor e da
escuta. No processo da Encarnação encontramos um Jesus companheiro da caminhada
que se faz catequista, animador vocacional e lança a semente da paz àqueles desacreditados
que tinham necessidade de alguém para acalmá-los e conduzi-los pelo caminho.
2ª Etapa da formação
catequética: “Então Jesus disse a eles...” (cf. 24, 13-24) - Anúncio da Palavra de
Deus, a qual liberta, chama e faz as pessoas sentirem “o coração pegar fogo -
arder”. Faz as pessoas serem capazes de dar uma resposta generosa ao chamamento
divino.
Nesta etapa Jesus faz
catequese bíblica com eles. Eles são colocados em contato com a Escritura. A
Palavra de Deus ajuda e prepara aqueles que estão em busca de discernimento
vocacional. A Palavra de Deus trás a paz tão desejada e ao mesmo tempo forma
pessoas com coração abrasado de amor, semente da paz verdadeira.
3ª Etapa do cultivo: “Quando
chegaram perto do povoado...” (vv.28-29)- é o resultado da primeira e da segunda etapas (Aproximação e
Formação). O peregrino Ressuscitado opta por uma catequese amadurecida, que
respeita etapas e processos, que gera confiança fruto da semente da paz lança
no solo fértil daqueles corações endurecidos. Por isso, os discípulos
vocacionados de Emaús criaram gosto pela catequese do caminho e apaixonaram-se
pelo seguimento do Ressuscitado. A conversa pelo caminho tinha sido muito
agradável.
Lucas quer mostrar que o
interesse dos discípulos por Jesus vai aumentando progressivamente. Eles vão
sendo cultivados. É a etapa do cultivo! Encanto, admiração, zelo e paixão
apostólica, bem como sentido de pertença não podem faltar neste processo
catequético.
4ª Etapa da comunhão;
acompanhamento e partilha: “Então Jesus entrou para ficar com eles...” (vv. 29b
– 32) – O gesto de entrar para
ficar com eles significou não apenas estar perto ao longo de um trecho do
caminho, mas realmente percorrê-lo junto, partilhando. O catequista assume a
responsabilidade de acompanhar a fé dos discípulos vocacionados. Quem acompanha
torna-se o Cristo na vida do outro, porque ouviu claramente o anúncio da
salvação, do testemunho. Portanto, o anúncio da palavra evangélica exige
daquele que dá este testemunho, a disponibilidade de acompanhar e de ajudar o
discípulo desacreditado e que agora demonstra abertura para a partilha. Não
basta proclamar ou testemunhar uma única vez esta fé. Será preciso também
ajudar a eliminar e a superar os obstáculos, as encruzilhadas do caminho,
principalmente quando “já é tarde e a noite vem chegando” (vv. 28 e 29a).
Entrar e ficar com eles, isto é, partilhar “a própria carne e o próprio sangue”,
como memorial pascal, sacrifício sacramental da morte e ressurreição do Senhor.
É como uma redescoberta e uma nova concepção de catequese. Conduz à entrega do
coração a Deus, à comunhão com a Igreja e a participação em sua missão rumo à
paz definitiva.
5ª Etapa da missão: - “Eles
se levantaram e voltaram correndo para Jerusalém (vv 33-35). Os olhos dos
discípulos se abriram e os corações deles estavam ardendo. Voltaram correndo,
naquela mesma noite para Jerusalém, de onde a missão e o profetismo começa e se
espalha. O relato dos discípulos de Emaús revela-nos a riqueza e a força das
palavras com que terminava a missa em latim: “Ite, missa est!” “Ide e fazei
discípulos entre todas as nações”. “Eis-me aqui, enviame (cf. Is 6,8). Ir e
fazer discípulos significa assumir o compromisso vocacional com a vida em todas
as suas dimensões. A missão começa em “Jerusalém”, lugar dos desafios para a
paz, lugar onde as sementes de paz devem ser lançadas.
Hoje a catequese é
desafiada a ajudar os novos discípulos missionários a construir sua identidade
de fé e a não fugirem da “Jerusalém” que clama por paz. Portanto, se faz
necessário estabelecer processos de amadurecimento da fé nos quais os cristãos
vocacionados adquiram convicções e estabeleçam valores que orientem suas vidas à
plenitude maior: à paz como lugar da vida e da ressurreição. Por isso, devemos
nos perguntar: A catequese, num tempo de apelação ao sagrado e de relação
utilitária com Deus, pode nos ajudar na construção da vida plena para todos
como semente de paz?