Reflexão e
aprofundamento
Tema: Vida Religiosa
Consagrada: presença do Reino
Qual a finalidade da
Vida Religiosa Consagrada, como presença do Reino? Antes de tudo, sabemos que o
chamado é uma iniciativa de Deus a cada pessoa. Deus que chama a uma íntima
comunhão com Ele, convidando-nos a conformar nossa vida à do Cristo sob a luz
do Espírito Santo. Portanto, a finalidade principal da vida religiosa
consagrada é a vivência da primeira consagração na aliança do sacramento do
batismo, do qual todos os cristãos leigos também assumem igualmente.
O que diferencia então
os religiosos consagrados dos outros cristãos leigos, sendo que todos pelo
batismo são consagrados a Deus? O deve diferenciar esta consagração é a forma
pela qual vive os religiosos consagrados. Estes, por sua vez, optam pela
consagração específica mediante a vivência dos conselhos evangélicos da
pobreza, castidade e obediência. Ou seja, vivem o seu batismo de forma radical prometendo
manter na aliança batismal o amor a Deus e ao próximo, sendo presença do Reino
de Deus. Esta presença do reino de Deus é assumida de maneira radical e
profética. Viver a aliança batismal de
forma radical era o que
queriam os “padres do deserto” e as primeiras comunidades cristãs,
originando-se daí a vida religiosa consagrada.
Ao longo dos séculos,
foram muitos os homens e as mulheres que se tornaram bons operários e boas
operárias para o Reino de Deus, sendo presença e testemunho. Ainda hoje, são
muitos os que optam pela consagração específica mediante a vivência dos
conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência. Esta consagração à
vida religiosa, adquiri seu pleno significado quando vivida na comunidade
eclesial. O carisma da vida religiosa consagrada é essencialmente eclesial,
sendo no interior da Igreja sinal e memória, testemunho e profecia dos valores centrais
do Evangelho e do Reino. Os religiosos consagrados, por sua vez, “em fidelidade
criativa continuam escutando a Deus onde a vida grita” (cf. Plano Global da
CLAR, p. 03).
Para melhor compreender
a finalidade da vida religiosa consagrada, como presença do Reino, podemos
defini-la por um tríplice eixo:
1) A consagração (encontro com Deus): Os
religiosos tem necessidade todos os dias de momentos de intimidade com Deus, para
purificar suas motivações, para se reabastecerem na fé . Esta intimidade ou
amizade com Deus deve ser como que um contínuo ato litúrgico, viver em Deus e
por Deus através da consagração.
Isto significa pertencer
totalmente a Deus. É Deus que incide na vida de cada pessoa consagrada e
estabelece com ela uma relação dialógica. A consequência desta relação através
do diálogo de Deus vai transformando a história da pessoa consagrada. “Neste
diálogo com Deus, compreendemo-nos a nós mesmos e encontramos resposta para as perguntas
mais profundas que habitam no nosso coração” (cf. Verbum Domini, nº 23). Em
contrapartida a pessoa é convocada a amar a Deus de “todo coração, com toda
alma, com todo entendimento e com toda força” (Mc 12, 31); e amar o próximo
como a si mesmo (Mc 12, 28-34). Quando falta esta intimidade e amizade com
Deus, o religioso ou a religiosa vai perdendo todo o sentido de sua consagração
e a
comunhão com Deus, com
os outros e consigo mesmo vai sendo deteriorada, vai morrendo. É a morte e a
deteriorização do “corpo”. É necessário, pois, permitir que o Senhor entre em
nossa “casa interior”, na Casa de Betânia: “Senhor, se estivesses aqui meu
irmão não teria morrido!” (Jo 11, 1-16).
2) A comunhão (viver em comunidade):
Os religiosos, operários e operárias, se colocam a serviço da grande messe
oferecendo tudo o que são e fazem. No dia-a-dia estão inseridos na comunidade e
na Igreja local. São presenças vivas do Reino na vida fraterna em comunidade e em
comunhão com a Igreja. Não se pode esquecer que o “ser” é que dá sentido ao “fazer”.
Para tanto, os religiosos são aqueles homens e mulheres que vivem em comunidade
e a experiência comunitária transborda para a Diakonia, para o serviço do anúncio. O anúncio da comunhão
de Deus com a humanidade e das pessoas entre si em Jesus Cristo. Este anúncio
inclui abrir horizontes no tempo e no espaço. Esta é a missão dos religiosos
consagrados: viver em comunidade; servir ao anúncio da Boa-Nova aos pobres e
excluídos da sociedade; serem imagens vivas de comunhão. Esta comunhão
reconstrói a comunidade no amor. A comunidade “reconstruída no amor, exala o
bom perfume que enche toda a casa” (Jo 12,3).
3) A missão (envio a todos). A
missão é para a diaconia, para o serviço do Reino. Ao longo dos séculos a vida
religiosa consagrada foi, no seio da Igreja, sinal e presença, testemunho vivo
de oração e de caridade, de contemplação e de apostolado. Sabemos, pois, que o
testemunho aproxima os religiosos consagrados ao modelo da profecia bíblica.
Isto leva radicalmente ao compromisso com os pobres, na missão. A missão dos
religiosos consagrados trás alguns aspectos específicos, conforme já
mencionamos acima como, por exemplo, o anúncio da Boa-Nova, da comunhão. Na
missão, os religiosos, além do aspecto do anúncio, trazem também o aspecto da
denúncia das injustiças que são frutos do pecado pessoal e social. E, não
poderiam faltar mais dois aspectos da missão dos religiosos consagrados desde a
centralidade da pessoa de Jesus Cristo. O primeiro é o aspecto do discernimento
dos “sinais dos tempos”, ou seja, viver a mística dos “olhos e ouvidos abertos”.
A vigilância e a prontidão evangélicas (Lc 32-48). Trata-se de descobrir a
vontade de Deus num tempo de “mudanças de época”, “tempos desnorteadores” (cf.
DGAE, 2011-2015, nº 20, CNBB). O segundo e último aspecto é o acompanhar, ou seja,
colocar os pés no caminho, ser presença do Reino de Deus na vida de todos os
seres humanos, sem exclusões. Por fim, a vida religiosa consagrada, como presença
do reino, mesmo “atravessando uma etapa de crises” ajuda os religiosos a tomar
consciência de sua vocação e os interpela diante da presença do Espírito nos
novos cenários e nos sujeitos emergentes. Quais são estes novos cenários e sujeitos emergentes?
Que implicações reclamam
estes novos cenários e
sujeitos emergentes a nossa formação e a nossa vida e missão? (cf. Plan Global da CLAR, 2012-2015).
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