Bíblia nos tempos de Rede
*Entrevista de
Liliane Borges (Canção Nova), com Dom Vilson Dias de Oliveira, DC – Bispo da
Diocese de Limeira, SP- Bispo Referencial da Comissão Bíblico-Catequética –
CNBB/Sul 1
1-Como o
senhor vê a utilização das novas tecnologias para o acesso a Bíblia e seu
estudo? (por exemplo, os aplicativos no celular; fóruns de debate nas redes
sociais, Bíblia on-line)
As novas tecnologias são fantásticas.
Elas facilitam o acesso ao texto bíblico, estimulam a leitura, abrem portas
para que as pessoas possam crescer no amor a Palavra de Deus... Além dos
aplicativos, dos fóruns e das bíblias on-line, creio que não podemos deixar de
citar os inúmeros sites e blogs que divulgam a liturgia diária, desenhos
bíblicos animados para as crianças e até mesmo aqueles sites que oferecem
subsídios para a Leitura Orante da Bíblia. Sob um ponto de vista, precisamos
ter certo cuidado com tantas ofertas. Sob outro ponto de vista, tudo isso é
riquíssimo!
2- Isso popularizou mais a Bíblia?
Certamente. Nas décadas de 1950 e
1960, poucas pessoas tinham acesso ao texto completo da Bíblia. Era um livro
enorme e caro! Os mais velhos lembram: na catequese tínhamos pequenos livros
ilustrados que apresentavam resumos da Sagrada Escritura. Os mais ricos
compravam os livros coloridos. Aos poucos, as editoras conseguiram desenvolver
exemplares a um custo menor, e as tiragens foram crescendo. Mas nada que possa
ser comparado aos dias de hoje. Conheço inúmeros jovens que carregam a Bíblia,
o Catecismo e muitos outros documentos da Igreja em seus smartphones! Isso é
fantástico.
3- Quais os perigos que essa sociedade
vive diante de tantas possibilidades? A Bíblia pode se tornar apenas uma das
inúmeras opções?
Vejamos se entendi sua pergunta.
Diante de tantas possibilidades, pode existir uma grande confusão? Sim, pode.
Com tantas ofertas no mercado, como saber o que realmente merece nossa atenção e
o que realmente foi produzido por uma equipe honesta e competente? Quando não
sabemos o que escolher, corremos o risco de não escolher coisa alguma. Outras
pessoas, diante das mesmas ofertas, acreditam que nenhuma diferença existe
entre elas, que é tudo a mesma coisa, que tudo tem o mesmo valor. Em todas
essas circunstâncias existe um risco, um perigo. É preciso ter cuidado para
acolher e promover esses serviços on-line, essas tecnologias. É preciso saber
quem produz o conteúdo e quem oferece determinado serviço: se é um grupo sério,
competente, em verdadeira comunhão com a Igreja. Se é um grupo disposto a
servir na caridade. Sem esses cuidados, conteúdo e tecnologia perdem seus
valores, deixam de ser eficazes. Não atingem os fiéis e atingem menos ainda os
afastados e não-crentes.
4- Como o senhor avalia a utilização da
Bíblia, liturgia diária, em dispositivos móveis nas missas, catequeses e outras
celebrações ?
De modo geral, acredito que tudo tem
sua validade. Mas é preciso levar em conta os objetivos pretendidos, o público
que pretendemos alcançar, o contexto em que se está inserido. Posso tomar
contato com a liturgia diária através do meu smartphone. Mas devo fazer isso
antes de ir à missa, ou logo que chegar na igreja. Mas no momento em que a
missa começa... No momento em que a assembleia começa a cantar, acolhendo o
presidente da celebração, minha atenção deve estar voltada para aquele momento.
E durante a liturgia da Palavra, devo exercitar meus ouvidos, por toda minha
atenção e meu coração naquela Palavra que é proclamada. E, por sua vez, a
equipe de liturgia deve ter preparado bem a celebração: bons leitores, bons
salmistas, boa homilia... Na catequese, no encontro de jovens, posso usar os
aplicativos para atrair a atenção da garotada, mas durante um retiro será
conveniente? Não sei dizer... O ser humano se distrai facilmente, perde o
foco... É preciso pensar com carinho, com cuidado...
5- Por fim, qual a "dica" que
o senhor dá para um bom conhecimento bíblico nestes tempos?
As tecnologias facilitam o acesso, a
leitura, estimulam o aprendizado. A editora Paulus, por exemplo, oferece a
edição on-line da Bíblia Edição Pastoral; e, melhor ainda, eles disponibilizam
uma ferramenta de busca que é perfeita para quem prepara um encontro, um texto,
uma homilia... É simples e eficiente. Mas não bastam as tecnologias e as
facilidades de acesso. Estudo, oração e acompanhamento são necessários e
bem-vindos. Não adianta você ter o melhor carro e não saber dirigir, como não
resolve ter a melhor cozinha do mundo, a mais equipada, e não saber cozinhar.
Assim, é importante que as pessoas interessadas em conhecer melhor a Palavra
estejam ligadas à comunidade, ao corpo da Igreja. É importante que os fiéis
organizem encontros de estudo bíblicos e busquem orientação com um padre, ou
com uma religiosa, diácono, seminarista ou um leigo bem preparado em teologia e
em catequese. Aqueles que tiverem possibilidade devem frequentar uma escola
diocesana de catequese ou de teologia, uma casa especializada em retiros
espirituais, grupos especializados na Leitura Orante da Bíblia. Sem esses
cuidados, tudo pode tornar-se um caminho sem orientação.

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