Reflexão Mês da
Bíblia
“ALEGRAI-VOS COMIGO, ENCONTREI O
QUE TINHA PERDIDO”
Amados irmãos:
Tradicionalmente,
setembro é conhecido em nossas comunidades como o mês da Bíblia. Trata-se de
uma proposta para que renovemos algo que deve ser uma constante em nossas vidas
e na pastoral da Igreja: o contato direto com a Palavra de Deus, a fim de que
ela ilumine nossos passos de discípulos e missionários de Jesus Cristo pelos
caminhos da história e sempre tendo os olhos fixos no horizonte do Reino.
Neste ano, o tema apresentado
é “Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Lucas” e o lema
“Alegrai-vos comigo, encontrei o eu tinha perdido”. Trata-se de um lema muito
importante, que vem nortear nosso pensamento neste período. Por isso são de
grande valor todas as iniciativas que, nas comunidades, ajudem nosso povo a
aprofundar seu conhecimento da Palavra e a criar maior familiaridade com a
mesma, tornando-a cada vez mais presente em sua caminhada.
Olhando para o evangelho
segundo Lucas na perspectiva do lema apresentado, somos impulsionados a
manifestar a alegria, uma das características mais salientes do discípulo que
caminha com o Ressuscitado, o Mestre. Além de lançar um olhar para todo o
Evangelho segundo Lucas, centramos a reflexão no seu capítulo 15, que traz três
parábolas: a ovelha perdida e encontrada, a moeda perdida e encontrada e o
filho perdido e encontrado. Todas abordam o tema da alegria por encontrar o que
estava perdido, mediante um contexto marcado pelo contraste entre os pecadores
e publicanos com fariseus e escribas, respondendo assim a murmurações dos que
faziam oposição a Jesus, sobretudo em virtude de sua convivência com os dois
primeiros grupos, muitas vezes tratados de forma hostil pelos demais. Essas
parábolas são, por assim dizer, o coração do Evangelho de Lucas, e estão em
total sintonia com um dito sapiencial, que afirmava que o “Filho do Homem veio
buscar e salvar o que estava perdido” (cf. 19,10).
Alguns elementos de
grande importância são reconhecidos nessas parábolas, como a misericórdia
divina, que é tão grande e atenciosa que, além de oferecer o perdão, não mede
esforços e empenha-se com todos os seus recursos para encontrar o que estava
partido. A primeira parábola, que reporta, por exemplo, a uma tradição
veterotestamentária do rei pastor que luta para resgatar uma ovelha (1Sm
17,34-36), expressa com muita clareza esta face de Deus.
A mesma ideia continua a
ser apresentada na parábola da moeda perdida e encontrada, com poucas
diferenças. Aqui o que se perde não é uma ovelha de um rebanho composto por cem
animais, mas um dracma, que representa 1/10 do que a mulher possuía. Ela faz de
tudo, cuidadosamente, para recuperar o que perdeu. Fica evidente o grande
esforço e empenho pela moeda.
A terceira parábola,
mais longa, trata do filho perdido e encontrado. O foco está na atitude do pai
em relação aos dois filhos. O Pai vai ao encontro do filho mais novo que,
depois de gastar toda sua herança com futilidades, volta para sua casa. O pai
também se dirige para o mais velho, que está incomodado com seu amor para o
irmão que cometeu tantos erros. A parábola enfatiza o amor desmedido do pai, o
que é expresso na ordem dada aos empregados em favor de seu filho (as vestes, o
anel, o calçado...). Oxalá não nos sintamos injustiçados por sermos bons
cristãos quando percebemos que Deus é assim para com todos os seus filhos(as),
e não somente ou exclusivamente conosco, por sermos bons católicos,
participantes e cheios de “méritos”! Jamais fechemos os olhos para não
reconhecer a gratuidade do amor misericordioso de Deus.
Não pode ficar
despercebida a incontida alegria nas três parábolas, ou seja, pela ovelha, pela
moeda e pelo filho encontrados. Eis a alegria de Deus. Nisto devemos
também nos alegrar de modo que irradiemos este estado de espírito em forma de
testemunho para os demais. Sim, pois este capítulo só pode ser compreendido à
luz de todo o Evangelho de Lucas e da própria história da salvação.
Tudo se trata de uma
catequese que tem por objetivo nos levar, a exemplo dos primeiros cristãos, à
uma experiência com o Ressuscitado, lembrando suas palavras, suas ações e os
acontecimentos em Jerusalém, pois o que agora vive é o mesmo que sofreu a
paixão e morte. Não dá pra negar o “escândalo” da cruz, caso contrário teremos
dificuldades em reconhecê-lo, como os discípulos do caminho de Emaús. O plano
salvífico de Deus para com a humanidade é assim. Ele salva, não por nossos
méritos, mas por seu amor. A alegria de Deus é a vida dos seus e, por sermos
assim tão amados, podemos também nos alegrar.
Que este mês da Bíblia
nos faça recordar que, no discipulado de Jesus, é preciso conhecê-lo
intimamente, na comunhão com Deus e com os irmãos, o que se expressa de forma
maior na celebração da Eucaristia, o “lugar” por excelência do reconhecimento
de Jesus Ressuscitado, como os discípulos de Emaús, depois de ouvir sua palavra
e de ver o pão partido. De certo modo esta parábola resume a obra de Lucas e
nos ensina a relacionar a vida, morte e ressurreição de Jesus e ler as
Escrituras à luz dos eventos pascais. Sem estabelecer estas relações, fica
difícil encontrar o sentido verdadeiro destes próprios acontecimentos
.
Sejamos capazes de,
munidos com a Palavra de Deus, reconhecer que o Senhor verdadeiramente
ressuscitou e nos resgatou quando estávamos perdidos no pecado e na morte.
Deixemo-nos transformar por esta constatação, que para nós é uma certeza: Jesus
vive e, por isso, nos alegremos!
Dom
Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo
Diocesano de Limeira/SP
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