EVANGELHO COMENTADO
6º DOMINGO DA PÁSCOA, C
Quem Me ama porá em prática as Minhas
palavras...
A Liturgia da Palavra deste 6º
Domingo da Páscoa – C, vem falar-nos na
Morada de Deus, isto é, que Deus será tudo em todos e, portanto, não haverá
mais templo nenhum, senão o lugar onde Deus estabelece a Sua morada.
Com a intervenção do Homem-Deus há
uma mudança radical.
Só Ele é capaz de um culto
verdadeiro, agradável a Deus, o da obediência espiritual que vai até à morte da
cruz.
Na paixão, o seu corpo torna-se num templo em
que se oferece o único sacrifício digno deste nome, a única realidade visível e sagrada.
Do
novo culto “em espírito e em verdade”, Cristo é a vítima e o sacerdote.
Hoje o sacrifício da nova aliança
celebra-se na Igreja, corpo de Cristo; é um culto espiritual pelo qual cada um
se apresenta a si mesmo em união com Cristo, no Espírito, como hóstia viva e
santa, e o povo sacerdotal reunido em assembleia é o único templo visível. Como os primeiros discípulos, temos,
portanto, de nos preparar para o Pentecostes, neste tempo litúrgico, de serena
e confiante expectativa, a fim de que o Espírito Santo possa fazer da nossa
alma a Sua morada permanente e assim Deus seja tudo em todos.
A 1ª Leitura, dos Actos dos Apóstolos,
diz-nos que em Jerusalém, no seu primeiro Concílio, a Igreja, assistida do
Espírito Santo, reafirma a liberdade que Cristo nos trouxe, ao decidir admitir
no seu seio os convertidos do paganismo, sem terem de se sujeitar às
prescrições da lei.
- “É que o Espírito Santo e nós
resolvemos não vos impor mais nenhum
encargo além dos seguintes que são necessários : abster-se
das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações
imorais”.(1ª Leitura).
Animada pelo Espírito Santo, que
inspira as suas decisões e sustenta a sua actividade missionária, a Igreja
aparece-nos assim, desde os seus primeiros dias, como uma comunidade sem
fronteiras, aberta a todos os homens, de qualquer raça ou cultura, unida no
amor e na fidelidade ao Colégio Apostólico, como proclama o Salmo Responsorial
:
- “Louvado sejais, Senhor, pelos
povos de toda a terra”.
A 2ª leitura é do Apocalipse em
que o Apóstolo S. João nos diz que a Igreja é a nova Jerusalém, alicerçada
sobre a fé dos Apóstolos, na qual se reunirão, chamados por Cristo
Ressuscitado, os homens dos quatro cantos da terra, para viverem em comunhão
perfeita com Deus e com os irmãos.
- “Mostrou-me a cidade santa de
Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, trazendo em si a glória de
Deus(...).A muralha da cidade tinha na base doze reforços salientes, e neles
doze nomes: os dos doze Apóstolos do Cordeiro”.(2ª Leitura).
S. João contempla-a em todo o seu
esplendor e perfeição.
Contudo, ela está ainda a caminhar,
na humildade e na dor, ao longo dos séculos, na esperança de resplandecer de
glória, quando chegar a plenitude dos tempos.
A Nova Jerusalém está ainda em
construção e cada um de nós é uma pedra viva desta morada de Deus, pedra
trabalhada pelo Espírito Santo, recebido no Baptismo e na Confirmação.
O Evangelho é também de S. João, em
que o Apóstolo nos lembra que Jesus, após a Ceia, ao terminar o primeiro
discurso de despedida, promete aos Seus discípulos o Espírito Santo, que lhes
fará compreender perfeitamente, a Sua mensagem, os ajudará a viver o Evangelho
em todas as circunstâncias e os manterá em comunhão com Deus e com os irmãos,
de modo a gozarem sempre aquela paz, que em si encerra todos os bens
messiânicos.
- “O Espírito Santo, que o Pai vai
enviar em Meu nome, é que há-de ensinar-vos tudo e há-de lembrar-vos tudo o que
Eu vos disse”. (Evangelho).
O fim do templo é a exterminação
definitiva :
- De todo o
formalismo religioso.
- De todo o
sectarismo.
- De toda a
religião reduzida a código de preceitos ; o fim de toda a alienação religiosa,
para entrar na autenticidade de uma fé que é comunhão plena e perfeita entre Deus
e o homem, entre o homem e o homem,
E Cristo é a chave desta comunhão.
O mistério de Cristo é mistério de
comunhão.
O desígnio de Deus é :
- Estabelecer a paz
em Jesus Cristo.
- Levar, em Jesus
Cristo, todos os homens ao diálogo e à comunhão com Ele.
- Realizar entre os
homens, antes divididos pelo pecado, uma comunhão fraterna, reunindo-os no
Corpo Místico de seu Filho.
Os homens do nosso tempo sentem
profundamente a exigência deste diálogo, de comunhão e de paz.
Sentimos todos esta exigência
profunda :
- De sair dos
monólogos estéreis.
- De sanar as
antigas fracturas que dividem a humanidade.
- De entrar em
comunhão, superando todas as barreiras de cor, raça e ideologia.
O cristianismo transcende o tempo
na medida em que ajuda a realizar esses valores, demolindo todos os obstáculos
que os dividem, todas as absurdas separações que se criaram no decorrer da
história.
A Igreja, tem esta promessa de
Cristo :
- “O Espírito Santo...é que vos
ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos disse”.
- “Eu vo-lo disse agora, antes que
aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis”.
É, portanto, um aviso ou
recomendacão, que nos dá uma profunda tranquilidade e uma plena confiança
através das vicissitudes da nossa fé, ameaçada em todos os tempos, por todos os
meios e a partir das mais variadas fontes de informação e deformação.
Seguros da presença do Espírito
Santo na Igreja e nas suas almas, os cristãos podem, portanto, manter-se
confiantes e alegres, por maiores que sejam as transformações por que passe a
sociedade e por maiores que sejam as dificuldades que a Igreja conheça, na
certeza de que hão-de fazer parte do plano da História da Salvação..
....................................
Diz o Catecismo da Igreja Católica
sobre a Igreja Templo do Espírito Santo
:
798. – O Espírito Santo é «o
princípio de toda a acção vital e verdadeiramente salvífica em cada uma das
diversas partes do Corpo»(Pio XII, encil.Mystici Corporis:DS 3808). Ele
realiza, de múltiplas maneiras, a edificação de todo o Corpo na caridade : pela
Palavra de Deus, «que tem o poder de construir o edifício» (Act,20,32);
mediante o Baptismo, pelo qual forma o Corpo de Cristo; pelos sacramentos, que
fazem crescer e curam os membros de Cristo; pela «graça dada aos Apóstolos que
ocupa o primeiro lugar entre os seus dons»(LG 7); pelas virtudes que fazem agir
segundo o bem; enfim, pelas múltiplas graças especiais (chamadas «carismas»)
que tornam os fiéis «aptos e disponíveis para assumir os diferentes cargos e
ofícios proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da
Igreja»(LG 12; AA 13).
John Nascimento
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