Projeto Ave-Maria - Especial Papa João Paulo II

I - Configurar-se a Cristo com Maria
II - Maria é feliz porque acreditou
III - O “Magnificat” da Igreja peregrina

I - Configurar-se a Cristo com Maria
A espiritualidade cristã tem como seu caráter qualificador o empenho do discípulo em configurar-se sempre mais com o seu Mestre (cf. Rom 8, 29; Fil 3, 10.21). A efusão do Espírito no Batismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme a “lógica” de Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil 2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo » (Rom 13, 14; Gal 3, 27).
No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: «Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos à vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita».
Neste processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo, pertence Ela mesma à Igreja como seu «membro eminente e inteiramente singular» sendo, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.
O Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto lhe permite educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente (cf. Gal 4, 19). Esta ação de Maria, totalmente fundada sobre a de Cristo e a esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ». É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus. Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”. Nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo!

Papa João Paulo II
in: Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”


II - Maria é feliz porque acreditou
Se, desde o momento da Anunciação lhe foi revelado o Filho, que apenas o Pai conhece completamente, como Aquele que O gera no «hoje» eterno (cf. S12, 7), então Maria, a Mãe, está em contacto com a verdade do seu Filho somente na fé e mediante a fé! É feliz, portanto, porque «acreditou»; e acredita dia-a-dia, no meio de todas as provações e contrariedades do período da infância de Jesus e, depois, durante os anos da sua vida oculta em Nazaré, quando ele «lhes era submisso» (Lc 2, 51); submisso a Maria e também a José, porque José, diante dos homens, faria para Ele às vezes de pai; e era por isso que o Filho de Maria era tido pela gente do lugar como «o filho do carpinteiro» (Mt 13, 55).
A Mãe, por conseguinte, lembrada de tudo o que lhe havia sido dito acerca deste seu Filho, na Anunciação e nos acontecimentos sucessivos, é portadora em si mesma da «novidade» radical da fé: o inicio da Nova Aliança. É este o início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova.
Não é difícil, porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma espécie de «noite de fé» - para usar as palavras de São João da Cruz - como que um «véu» através do qual é forçoso aproximar-se do Invisível e viver na intimidade com o mistério. Foi deste modo, efetivamente, que Maria, durante muitos anos, permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé, à medida que Jesus «crescia em sabedoria... e graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Manifestava-se cada vez mais aos olhos dos homens a predileção que Deus tinha por Ele. A primeira entre estas criaturas humanas admitidas à descoberta de Cristo foi Maria que, com Ele e com José, vivia na mesma casa de Nazaré.
Todavia, na ocasião em que O reencontraram no templo, à pergunta da Mãe: «Por que procedeste assim conosco?», Jesus - então menino de doze anos - respondeu:
«Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?»; e o Evangelista acrescenta: «Mas eles
(José e Maria) não entenderam as suas palavras» (Lc 2, 48-50).
Portanto, Jesus tinha a consciência de que «só o Pai conhece o Filho» (cf. Mt 11, 27); tanto assim, que até aquela a quem tinha sido revelado mais profundamente o mistério da sua filiação divina, a sua Mãe, vivia na intimidade com este mistério somente mediante a fé! Encontrando-se constantemente ao lado do Filho, sob o mesmo teto, e «conservando fielmente a união com o Filho» Ela «avançava na peregrinação da fé», como acentua o Concílio. Assim sucedeu também durante a vida pública de Cristo (cf. Mc 3,21-35) pelo que, dia-a-dia, se cumpriram nela as palavras de congratulação pronunciadas por Isabel, por ocasião da Visitação: «Feliz aquela que acreditou».

Papa João Paulo II
In :Carta Encíclica “Redemptoris Mater”

III - O “Magnificat” da Igreja peregrina
Na fase atual da sua caminhada, a Igreja procura reencontrar a união de todos os que professam a própria fé em Cristo, para manifestar a obediência ao seu Senhor que orou por esta unidade, antes do seu eminente sacrifício. Vai avançando na «sua peregrinação... e anunciando a paixão e a morte do Senhor até que Ele venha» (CONC. ECUM. VATICANO II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium.8). «Prosseguindo entre as tentações e tribulações da caminhada, a Igreja é apoiada pela força da graça de Deus, que lhe foi prometida pelo Senhor, para que não se afaste por causa da fraqueza humana, da perfeita fidelidade, mas permaneça digna esposa do seu Senhor e, com auxílio do Espírito Santo, não cesse de se renovar a si própria até que, pela Cruz, chegue à luz que não conhece ocaso» (CONC. ECUM. VATICANO II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium.9).

A Virgem Maria está constantemente presente nessa caminhada de fé do Povo de Deus em direção à luz. Demonstra-o de modo especial o cântico do «Magnificat», que, tendo brotado da profundidade da fé de Maria na Visitação, não cessa de vibrar no coração da Igreja ao longo dos séculos. Prova-o a sua recitação quotidiana na liturgia das Vésperas e em muitos outros momentos de devoção, quer pessoal, quer comunitária.

«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.

Porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada
todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.

O seu amor se estende de geração em geração
sobre aqueles que O temem.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.

Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo,
Lembrado de sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência para sempre” (Lc 1, 46-55)
Papa João Paulo II
Carta Encíclica “Redemptoris Mater”

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